Babuínos não falam inglês, é óbvio. Mas cientistas na
França conseguiram treinar meia dúzia deles para que reconhecessem
quando letras na tela de um computador formavam uma palavra de verdade e
quando eram só sequência sem sentido.
Ao ler, uma pessoa usa dados sobre o posicionamento das letras em uma palavra, a "informação ortográfica", para ter acesso aos sons e ao sentido, dizem Jonathan Grainger e seus colegas da Universidade Aix-Marseille, em Marselha, na França.
Eles queriam saber se o processamento da informação ortográfica poderia ser feito mesmo na ausência de conhecimento linguístico. E foram atrás de primatas com boas habilidades visuais, mas sem conhecimento da linguagem humana.
Editoria de arte/Folhapress | ||
"Nossos resultados demonstram que as aptidões básicas de processamento de ortografia podem ser adquiridas na ausência de representações linguísticas", escreveu a equipe na edição de hoje da revista "Science".
Os babuínos foram treinados para usar telas de computador sensíveis ao toque. Diante deles apareciam palavras sempre com quatro letras (por exemplo: "wasp", vespa) ou então combinações artificiais de quatro letras que não eram palavras.
Os macacos passavam por sessões de teste que incluíam 25 apresentações de uma nova palavra, 25 palavras já aprendidas e 50 pseudopalavras. Se acertassem uma palavra, recebiam uma recompensa de comida.
Após o treino, os bichos alcançaram precisão em torno de 75% nos testes.
A descoberta explode uma noção antiga entre os linguistas e biólogos: a de que a capacidade de reconhecer palavras seria inseparável da linguagem. Aparentemente, reconhecer combinações de objetos visuais em sequências é algo que pode ter surgido na evolução bem antes de os seres humanos divergirem de seus ancestrais comuns com outros primatas.
Comentando o estudo na mesma edição da "Science", Michael Platt e Geoffrey Adams, da Universidade Duke (EUA), lembram a hipótese de que circuitos cerebrais teriam evoluído para servir a um fim e depois teriam sido "reciclados" para novas funções.
"A ideia é que esses circuitos surgiram para apoiar o reconhecimento de objetos", disse Platt à Folha.
"Isso significa saber que uma figueira é uma figueira, e não um cafeeiro."
"Quando alguém aprende a escrever, um pedaço do circuito é cooptado para apoiar a função de leitura", afirma.
"Uma outra extensão dessa ideia é que os sistemas de escrita que melhor se conformam à maneira como o sistema visual quebra e remonta objetos têm mais chance de ser popularizados."
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário